Muitas pessoas respeitáveis, lingüistas, professores, mestres, doutores em geral criticam o uso de anglicismos no dia-a-dia, quer como gírias quer como jargões de profissões emergentes.
Na área de Ciência da Computação, Ciência da Informação e outras áreas correlatas há a tendência de mestres e doutores renomados ter uma aversão a novos
anglicismos(relacionados a novas tecnologias) propondo seus correspondentes em português.
Mas pense: se para designar nomes de seres vivos na Biologia (taxonomia) usa-se o latim, usando-se também na designação de vários termos jurídicos, mundialmente. Além disso usa-se palavras latinas ou gregas para vários termos técnicos da Química, Física, Matemática e Linguística porque não usar o Inglês para as Ciências da Computação e da Informação?
Matemática, Biologia, Química, Física e Direito são ciências que começaram a ser estudadas desde os primórdios da humanidade, atravessando a época em que o Grego e o Latim foram as línguas mundialmente predominantes e continuam sendo usadas após a "morte" dessas línguas. Optou-se, por padrões e convenções internacionais, usar por exemplo o Latim no Direito e na Biologia. Porque não usar o Inglês para as Ciências da Computação e da Informação? Tenho alguns motivos pra isso:
1) São ciências novas, que começaram a ser estudadas e desenvolvidas desde a década de 1950 para cá.
2) A maioria (mas não todas) das contribuições para essas ciências veio indiscutivelmente de países de língua inglesa.
3) Torno a dizer que o inglês é a língua predominante e mundialmente conhecida hoje, por isso nada mais justo do que ser usada para cunhar os nomes de novos termos e jargões de ciências também contemporâneas.
4) Lembre-se que um anglicismo para designar uma nova tecnologia também é um neologismo em seu país de origem, pois é um novo uso para uma palavra antiga, ou uma junção de palavras.
Concordo plenamente que palavras existentes no nosso português não devem ser substituidas por seus equivalentes em inglês. É o caso de
performance em detrimento de
desempenho ou
acurácia em detrimento de
exatidão. Mas dependendo da palavra isso se faz necessário, um exemplo:
Em inglês dá-se o nome de "framework" para um conjunto sólido e grande bibliotecas, exemplos, padrões e partes ou componentes de software pré montado para a elaboração rápida de outros softwares. Alguns tradutores traduzem framework como biblioteca, moldura, estrutura etc ... quando na verdade a palavra que mais se aproxima do significado de framework é
"arcabouço", palavra pouco usada até mesmo por engenheiros civis.
Mas é simplesmente uma arrogância ou prepotência, um orgulho besta, países de língua portuguesa e doutores em diversas ciências querer designar sites por sítios (eu não planto abobrinhas nem crio vacas em meu site), mouse por rato e por aí vamos. Por acaso você usa viamole ou meiomole para software e meioduro ou "ferragens" para hardware? Dificilmente.
Outro motivo pelo qual eu não sou avesso a anglicismos é o seguinte: a língua é viva. Ela muda com o tempo, espontaneamente ou por absorção / cruzamento com outras línguas. Se não impedimos que certos animais ou vegetais absorvam características genéticas de outros ao se fazer cruzamentos e enxertos, muito pelo contrário, tentamos e encorajamos propositalmente isso, porque seria diferente com a língua? Nossa língua já poderia sofrer uma mutação só pelo isolamento geográfico de Portugal (é uma boa distância e um bom trecho de oceano no meio). Que dizer então das influências (cruzamentos) com as línguas indígenas, africanas, o francês, o holandês, o italiano que vaio depois etc ... Nossa língua é um ser vivo, vira - lata que seja, só nosso.
Tolkien era linguista e filólogo. Em seu trabalho ele criou todo um mundo, uma nação e uma língua. Na sua obra literária ele demonstra como o isolamento e os choques de cultura podem criar novas línguas, e usou suas histórias para embasar suas pesquisas. Nas suas histórias, desde O Silmarillion até o Senhor dos Anéis, essa nação e língua se divide em várias partes. Os Elfos primeiramente fogem da Terra Média para Valinor, no continente sagrado de Arda. Mas alguns Elfos permanecem na Terra Média. O isolamento geográfico dos dois grupos, por milênios, criou na Terra Média uma segunda língua, um dialeto. Os elfos então tinha duas línguas, o Quenya e o Sindarin. Parte do povo de Valinor, após séculos, voltou para a Terra Média. Lá encontraram duas novas raças, os Anões e os Homens. As duas Línguas sofreram mais fusões e divisões. Os meio-elfos foram para Númenor, ilha criada posteriormente pelos Deuses entre Valinor e a Terra Média. Mais tarde as línguas dos homens também sofreram mutações e divisões, uma vez que o homem mortal, por ter vida muito mais curta do que os elfos, era mais suscetível ao isolamento geográfico e social.
Não é exatamente isso que aconteceu na história de todas as línguas ao redor do mundo? Será que não tem influências da língua portuguesa em outras línguas, por exemplo o
Japonês?
Esta é uma citação de Tolkien que eu considero interessante e verdadeira:
| O Volapuque, Esperanto, o Ido, o Novial, são línguas mortas, mais mortas do que antigas línguas sem uso, porque seus inventores jamais criaram lendas para acompanhá-las. |
Uma língua precisa ser embasada em uma história e cultura. Se uma língua for artificial ela deve ser embasada em histórias e culturas artificiais, senão ela já nasce morta. Parte desta "vida" ou desta "cultura" da língua se deve a fusões com outras línguas e as confusões e desentendimentos que isso pode causar.
Gostaria até de citar esse
twit do dublador Nelson Machado, de quem sou fã e admiro muito o trabalho: (a própria palavra
fã é um anglicismo)
Nós tínhamos o formal e responsável TRABALHO. Criamos o informal e libertário TRAMPO. Agora vivemos com o submisso JOB!!! Êêê, povinho!
Lógico que não conheço o contexto desse tweet, muito menos o que gerou a crítica. Mas é apenas um exemplo.
Ora, porquê submissão? O "job" é o trabalho do freelance. Se o nome de sua profissão é um anglicismo e a culpa nem é sua, porque o nome de parte do seu trabalho deveria ser diferente? Job pode ser também uma etapa de uma sequência de etapas de um programa que rode vários comandos em lote.
Terei que discordar (não confunda com descordar) um pouco do Machado. Não sei se o caso é submissão, mas analise os seguintes fatos:
1) Encare o Inglês como o
esperanto que deu certo e você vai entender as próximas enumerações:
2) Job é mais curto, podendo ser melhor inserido em uma mensagem de 140 caracteres, seja ela um "torpedo" de celular ou uma "micropostagem" de um "microblog". Se a maioria das pessoas conhecesse chinês e o tivesse como sua segunda língua, ou seja, se o chinês assumisse o papel do que o inglês é hoje, aposto que a pessoa em questão, numa mensagem de texto, preferiria usar (??) que só tem 2 caracteres do que job que tem três ou trabalho que tem 8. Não sei como se pronuncia (??) usei o google translator. Aposto que isso pode ser comum nas regiões fronteiriças entre a China e outros países, ou em países colonizados pela China.
3) O uso de anglicismos como gíria na linguagem falada, desconsiderando-se o uso em sites e celulares e levando em consideração sociologia e psicologia, serve como identificação de um grupo: O grupo que sabe o que é e usa a palavra "Job" em detrimento de quem não usa. Pode parecer simplista, mas as pessoas que moram na extrema zona leste de São Paulo dizem a palavra "suave" a cada 3 ou 4 outras palavras, e "suave" como gíria, assume uma gama muito grande de significados e nuanças que variam de acordo com a entonação de voz e o contexto. Pode significar desde um "fácil" até uma pergunta "tudo bem?" (suave?).
4) Não defendo o uso de gírias e nem afirmo que ela faz parte (ou deva fazer parte) da lingua culta, mas, conforme os estudos de muitos linguistas e o legado que Tolkien deixou, as línguas são vivas e sofrem "mutações" expontâneas conforme o tempo passa. O isolamento de um grupo de outro grupo pode acelerar o processo de diferenciação das línguas. Por acaso existe maior isolamento do que o isolamento social que ocorre dentro de uma cidade, onde alguns tem acesso a um ensino de qualidade e línguas estrangeiras enquanto que outros, que já estão semi-isolados geograficamente, não tem acesso ao ensino básico? É por isso que a linguagem sofre tantas mudanças mesmo dentro de uma mesma cidade, variando de bairro para bairro.
Repito: Será que não tem influências da língua portuguesa em outras línguas, por exemplo o
Japonês? Não seria submissão então do povo Japonês aos portugueses? Creio que não.
E por falar em submissão, não seria uma submissão de mais de 500 anos nós continuarmos falando português? Aliás, parando para pensar melhor, quem disse que falamos português?
Se você conversar com pessoas do Cabo Verde, Angola ou Guiné Bissau você verá que, salvo alguns regionalismos e palavras próprias, a língua em geral, sonoridade das palavras, consoantes e vogais é muito mais parecida com o português de Portugal do que o é nosso português brasileiro. Nossa língua portuguesa está muito distante do português de Portugal. Além da influência de outras linguas, africanas, indigenas e saxônicas (tivemos aqui alemães e holandeses também)
nosso isolamento foi maior. Não só o isolamento geográfico foi maior, como o isolamento intelectual também. Por séculos falamos português por aqui tendo poucos ou nenhum professor de português decente.
Você pode ver isso na prática, num exemplo até simplório, como abolimos os pronomes "Tu" e "Vós" enquanto que eles ainda são usados nos outros países que se fala Português.
Isso não é evidente só no português. O inglês americano, o qual estudamos e adotamos como "
esperanto que deu certo", é muito diferente do inglês da Inglaterra, do Canadá, da Austrália etc... mesmo assim não parece ser tão diferente quanto o português do Brasil é dos outros "portugueses". O mesmo se dá com o espanhol.
O que tudo isso tem a ver com o blog? Linguagens de programação também são estudadas por linguistas e vice-versa. É uma área interdisciplinar e multidisciplinar. Linguagens de programação são línguas artificiais, com verbos predominantemente no imperativo, e formais, sem ambiguidades. Pode-se dizer que as linguagens de programação estão mais vivas que um esperanto, por assim dizer, porque são amplamente usadas no dia a dia de muitos profissionais e elas têm história: você sabe que o C é pai do C++, avô do Java e bisavô do C#. Você sabe que Oxygene é um filho bastardo do C# com o Object Pascal ... e por aí vai.
Antes de criticar anglicismos vamos analisar um pouco os fatos. Anglicismos vão ocorrer, quer sejam coibidos quer não.
Concordo em grande parte com o que você disse, mas existem uns anglicismos nojetos, tipo: "displear" de "display", qual o ganho disso ao invés de se usar o nosso bom e velho "exibir", mas como bem colocaste, a língua é viva e tende a descontinuar certas exceções.
ResponderExcluirEm tempo, aqui no Estado do Pará, ainda utilizamos fortemente o "tu".
Sim, é verdade. Na região Sul do Brasil também se usa muito mais o pronome "tu" do que aqui em São Paulo.
ResponderExcluirdisplear é muito feio, tanto quanto era o "Deletar", hoje você estranha o "Deletar"? E o checar? Comitar? feio ou não, uma hora o "displear" vai ser usado com uma certa nuança: "displear" indica que algo está sendo mostrado ou exibido em uma tela ou "display" eletrônico e não mostrado ou exibido em uma vitrine ou na mão de uma pessoa, logo vai "surgir" a diferença entre "displear" e "mostrar" ou "exibir". Se bem que "displear" é forçar demais a barra kkk mas nem eu nem você podemos impedir que o "displear" se "displeie" pelos blogs técnicos por aí e quem sabe futuramente até em um livro. Ninguém tem força, por mais culto que seja, para impedir as mudanças de uma língua ou a aparição dessas aberrações, por mais feias que sejam.