Eu gosto de ler. Não sou um rato de biblioteca, não tenho leitura dinâmica e não leio tão rápido ou com tanta frequência (sem trema desta vez), mas gosto de ler.
Gosto de comparar uma boa leitura com uma boa refeição. Já percebeu que às vezes um prato simples, em um restaurante pequeno de um bairro não muito movimentado pode te surpreender? Pode ser exatamente igual ao que sua mãe fazia, por exemplo.
O mesmo acontece com livros. Às vezes não damos muita atenção para um livro, e ele nos surpreende. Não apenas pela história envolvente, mas pelas "notas". Sim, notas. Para quem degusta vinhos, café ou perfumes está acostumado a ouvir essa palavra, "notas", fora de um contexto musical. Nos vinhos, pratos e perfumes notas são características, que não são plenamente fixas ou mensuráveis, mas são nebulosas. Não têm extremos, mas têm infinitas gradações.
Quantas gradações de sabor podem existir entre o amargo do café e o doce do chocolate? Entre um perfume e outro?
Essas "notas" podem ser encontradas em livros. E não apenas em romances ou ficções, mas em livros técnicos, enciclopédias, trabalhos científicos, quadrinhos, livros religiosos etc... Elas atingem sua mente, ressoam no seu intelecto, reverberam no seu íntimo, retinem em sua alma, misturam-se a todas as suas crenças, filosofias, conhecimentos tácitos e personalidade. Por fim são incorporadas e tornam parte do seu próprio acervo, de você. Essas notas também são chamadas de memes, mas memes hoje ganharam um significado marqueteiro interneteiro muito aquém do seu real significado.
Se comparados à refeições uma revista é como um lanche em um fast-food americano. Um livro técnico é como um prato-feito de buteco: quantidade grande, comida demasiadamente comum (ou até ordinária), muita gordura e carboidrato, em frente ao seu trabalho, te preparando para o trabalho, pronto para o trabalho. Sim, da mesma forma que você só come o "pf" no buteco em frente à empresa quando está trabalhando, livros técnicos só servem para trabalho. Eles SÃO trabalho. Mas, da mesma forma que o pf, nem tudo será comido, e nem tudo será digerido. Ou você vai me dizer que devora com prazer os livros técnicos de capa a capa, mesmo as partes que você já está "saciado", mesmo sem fome desse conhecimento, e ainda assim fica mais "saudável"? Dirá que a cada livro técnico devorado seu salário aumenta 1%, 0,1%?
Livros técnicos são importantes, como o arroz, feijão, bife e salada. Mas não deveriam ser os únicos livros da sua vida.
Recentemente eu li um livro desses, baratinho, de bolso, comprado em banca de jornal, que não valorizei muito quando vi, mas que ele se mostrou uma macarronada de domingo, com direito a frango à passarinho.
O diário do chaves vai além do que é mostrado nos episódios do seriado e, sem perder o tom de comédia, mostra um lado mais dramático, triste e até lúgubre da história.
Não vou falar mais nada, porque irá estragar sua refeição. Apenas recomendo: experimente.
Atualização:
Meio esfomeado estou hoje não? É que minha inspiração para o texto acima foi esse livro-mangá aqui:
Sentimentos se misturam num belo prato, marcados por um ritmo, um passo, intenso como a correria da vida, onde apenas nos momentos de saciar o vazio em seu estômago é que o personagem se apercebe do seu vazio existencial.
Eu gostei.
Se o livro sobre o Chaves tiver metade da qualidade do seu texto, já vai valer a pena. Você escreve muito bem. Beijos!
ResponderExcluirObrigado! Fico lisonjeado (é o google que me ajuda a não colocar um "g" aqui) com seu seus elogios \(^^)/
ResponderExcluirMinha inspiração de hoje foi esse livro aqui:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?id_link=8055&tipo=2&isbn=9788576163138
A leitura nos dá a oportunidade de extrair de nossas entranhas a sensibilidade que normalmente não temos. Orgulho do marido, programador e escritor que tú és. Beijos
ResponderExcluirObrigado minha vida, você sabe que foi você que fez "aflorar" (ui) meu lado humano, mesmo que seja só de vez em quando,
ResponderExcluirTe amo!